Sionismo na Amazônia

A história dos sionistas na Amazônia brasileira é muito mais rica e surpreendente, mas pouca gente conhece.

Quando em 1894 o capitão Alfred Dreyfuss foi acusado de espionagem pelo exército francês e condenado sem provas contundentes, o então jornalista Theodor Herzl teve a certeza de que o povo judeu só teria segurança em um Estado próprio.

O caso Dreyfuss ficou conhecido como o mais gritante ato de antissemitismo na França naquele ano, e marcou o momento em que Herzl iria conceber o livro O Estado Judeu, obra que preconizava a criação de um Estado Judeu soberano. Histórias de perseguições e mesmo assassinatos contra os judeus eram constantes em países europeus, até mesmo nas regiões consideradas mais tolerantes. Por isso, a ideia de um Estado nacional soberano agradou aos judeus do mundo todo. E em especial na Amazônia.


Herzl e a Amazônia

As ideias sionistas de Herzl tornaram-se perfeitas para o contexto histórico e social de judeus que moravam em regiões da floresta amazônica. Embora alguns livros enfatizem que havia tolerância e harmonia entre a população local e os judeus, a verdade é que vez ou outra o choque e as desconfianças eram inevitáveis: por exemplo, em Cametá aconteceu o motim chamado de “mata judeu“, onde os comerciantes incitaram a população a perseguir judeus; em Parintins o caso de dona Sol Mendes que sofreu ameaças de bandoleiros que queriam matar seus filhos simplesmente por serem judeus; em Gurupá, na região do Marajó, as crianças judias eram xingadas na época da sexta-feira santa. Enfim, houve inúmeros casos de antissemitismo por toda Amazônia, que levaria muitos jovens judeus a se agarrar no sionismo como porta de salvação desta realidade.

em Parintins o caso de dona Sol Mendes que sofreu ameaças de bandoleiros que queriam matar seus filhos simplesmente por serem judeus


Um desses jovens se chamava Elyezer Levy que era tenente do exército mas ficou conhecido como Major; ele fundou o periódico Kol Israel (A Voz de Israel) em 1918, o comitê Ahava Sion e o externato misto Chaim Weizmann, todos com inspiração sionista e de apoio aos judeus marroquinos que moravam na Amazônia. O Major Levy era amigo pessoal de Álvaro Adolfo da Silveira que fazia parte da delegação brasileira na ONU, com liderança de Oswaldo Aranha. Dizem que por influência do Major, Álvaro Adolfo lutou para que a votação para a partilha da Palestina fosse adiada para dois dias, para dar tempo de convencer alguns países votarem a favor. E foi o que aconteceu.

Infelizmente o Major Elyezer Levy não chegou a ver a criação do Estado de Israel, pois faleceu um pouco antes.
Além de Elyezer Levy, outro sionista amazônida deve ser mencionado: David José Perez, que fundou o jornal A Columna e também um grupo sionista chamado Ohabe Sion, que se correspondia por intermédio de Moysés Cohen com Max Nordau em 1901, e que se tornou atuante pela região do rio Madeira.

Foi o judaísmo amazônico o pioneiro das ideias sionistas no Brasil.

Iria Ferreira Chocron
Colaboradora Legião Sionista