Devido a pandemia, o ato exigindo justiça para o assassinato de Sarah Halimi foi virtual, através da página no Facebook da Juventude Judaica Organizada e também da Federação Israelita de São Paulo e contou com mais de 5 mil pessoas de alcance no total.
O evento realizado pela Juventude Judaica Organizada aconteceu no último domingo, dia 25 de abril de 2021 e contou com apoio da Fisesp, Conib, Organização Sionista do RS, Betar-SP e Wizo-RJ.
Entenda o caso
O Tribunal de recurso de Paris decidiu aceitar o argumento de “insanidade” apresentado pela defesa do homicida de Sarah Halimi, defenestrada em abril de 2017 em Paris. A indignação perante a decisão judicial começou a espalhar-se entre a diáspora judaica da Europa aos Estados Unidos e a esfera mediática debate entre duas perspetivas: para uns foi um “crime antissemita”, para outros “um ato demencial”.
Foi na noite de 3 para 4 de abril de 2017 que Kobili Traoré, de 29 anos, entrou através da varanda em casa da vizinha de 65 anos e surpreendeu-a no seu sono chamando-a de “sheitan” (satanás, em árabe) enquanto a espancava. Por fim, atirou-a pela janela enquanto gritava aos polícias embaixo: “Atenção que esta mulher vai suicidar-se”. A queda do terceiro andar para a rua foi fatal à médica reformada.
A polícia tinha chegado minutos antes, alertada por vizinhos que tinham visto Traoré a trespassar entre as duas varandas e o ouviram a recitar em alta voz versículos alegadamente do Corão. Na rua, os agentes estavam a aguardar a chegada duma brigada especializada.
O homicida, de nacionalidade francesa e natural do Mali, foi detido, sem oferecer resistência. Mas, horas depois, tornou-se nervoso e agressivo e “chegou a bater-se com oito polícias que o tentavam dominar”. Um médico mandou que fosse internado na ala psiquiátrica.
A investigação subsequente incluiu três exames psiquiátricos, um que o declarou imputável e dois que declararam o contrário. Segundo os médicos, o indivíduo habitual consumidor de canábis tinha exagerado na dose nessa fatídica noite. Internado na ala psiquiátrica, só mais de três meses depois foi ouvido pela polícia, diz a reportagem do L’Express.
Apesar de ter sido indiciado por homicídio, acabou por voltar a ser internado na ala psiquiátrica e aí se mantém mais de dois anos depois, para indignação de muitos.
Antissemitismo ou demência?
Ao longo destes mais de dois anos, o debate em torno da motivação do crime continua.
A pista antissemita foi apresentada de imediato por associações judaicas. Em entrevista ao Le Figaro, o advogado de uma das irmãs da vítima indicava em maio de 2017 que “o assassino apresenta o perfil clássico dos criminosos islamitas”.
Mas um respeitado jornal Tribune Juive expressava em 7 de abril, três dias após o crime, que confiava na polícia francesa que descartara a motivação antissemita, a pista terrorista.
Entretanto intelectuais como Elisabeth Badinter, Alain Finkielkraut, Michel Onfray, entre outros, publicavam em 2 de junho uma tribuna sobre a motivação antissemítica e criticavam o sistemático “negacionismo” e a “indiferença dos media” — como o Le Monde e o Libération que só em junho viriam a publicar um artigo sobre o caso. Também havia uma referência ao silêncio dos “candidatos presidenciais”.
Também vários media internacionais como o Times of Israel, o Washington Post apontavam a “hesitação das autoridades francesas em investigar o crime como um ato terrorista antissemita”.
Dois anos depois do crime, em maio deste ano, Shimon Samuels, do Simon Wiesenthal Center Europe, em entrevista ao Jerusalem Post indignava-se porque o homicida continuava internado na ala psiquiátrica, considerado incapaz de ser julgado. “Se a justiça é pervertida e o assassínio é descriminalizado porque o homicida é dependente de drogas, isto abre um precedente para que todo o condutor embriagado seja mandado em liberdade”.
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