Grupos brasileiros se apropriam das bandeiras israelense e palestina, muitas vezes sem a ideia aprofundada do que representam cada governo, dentro do que estes grupos acreditam e defendem.
Durante a pandemia ficou ainda mais evidente o acirramento dos ânimos entre os grupos políticos partidários no Brasil e infelizmente essa disputa chegou finalmente no Oriente Médio, mais precisamente no conflito eterno entre israelenses e palestinos.
Embora isso não seja novidade e muito menos um fenômeno atual, no contexto histórico sempre acompanhamos o uso da bandeira palestina em manifestações populares da esquerda, muitas vezes atacando Israel por voz ou até mesmo queimando a bandeira israelense, como fez o ativista do Psol no Rio de Janeiro, conhecido por Babá.
O que difere atualmente portanto, é o uso da bandeira israelense em manifestações da direita, impulsionada pela maioria evangélica que apoiou o presidente Bolsonaro e que já empunhava a bandeira de Israel em suas manifestações populares, como a Marcha para Jesus, mas também pode se encontrar facilmente em todas as Igrejas e em seus cultos religiosos, devido ao amor que a maioria do povo evangélico possui por Israel.
Porém, grande parte dos evangélicos jamais esteve em Israel, apesar de conhecer a Bíblia inteira e todos os lugares sagrados para o cristianismo por lá, mas efetivamente não conhecem “in loco” a moderna e atual Terra Santa. Os que lá estiveram puderam ter uma breve noção, mas somente baseados em Jerusalém e Galiléia sem conhecer a cosmopolita Tel Aviv e suas características próprias de uma Israel totalmente diferente da Bíblia, deixa um pouco desfocada a visão da realidade, principalmente nas questões mais sensíveis aos cristãos conservadores como aborto, casamento e igualdade de gêneros e até o uso de drogas que são situações normais na Israel atual.
Por outro lado, a bandeira palestina utilizada pela esquerda sempre para tentar definir e atrelar o suposto povo sofrido palestino pelos imperialistas americanos e israelenses aos mais pobres e vulneráveis no Brasil também carece de um ajuste de realidade por parte de seus ativistas, pois se realmente se preocupam e lutam pelo direito do povo mais sofrido, tanto no Brasil como na Palestina, além da atuação na agenda pró direitos iguais, humanos e LGBTs, como explicar seus ataques somente a Israel, quando fecham os olhos e fingem que nada acontece em Gaza, território controlado pelo Hamas, que persegue e mata gays, cristãos e mantém uma política de terror contra inimigos políticos, mulheres e outras minorias? Isso acontece também nos territórios administrados pela Autoridade Palestina na Cisjordânia, porém de forma menos intensa que em Gaza.
Trazer as duas bandeiras para manifestações partidárias no Brasil sem o devido conhecimento do mínimo do que representam é trazer o conflito também para um país que sempre acolheu todos os povos e que se formou na diversidade de culturas, como o Brasil. Utilizar de símbolos externos para atacar este ou aquele grupo político-partidário somente porque não concorda com o outro ou usar do símbolo para enaltecer algo que não se conhece direito são subterfúgios infelizes e que somente contribui para o acirramento do ódio para e entre ambos.
É preciso entender melhor sempre o que a bandeira representa quando se a levanta, seja ela qual for, sob o risco de sua vontade em demonstrar o que acredita não ser levado a sério ou ser compreendido de maneira contrária, gerando um problema ainda maior e não respondendo aos verdadeiros anseios daqueles que simpatizam com este ou aquele grupo.
Persio Bider
Presidente JJO
Juventude Judaica Organizada