O projeto de transferência de gás natural do Egito para o Líbano
Em 14 de janeiro, o embaixador dos EUA no Líbano apresentou ao primeiro-ministro libanês Mikati um documento oficial do Departamento do Tesouro dos EUA afirmando que os Estados Unidos não imporão nenhuma sanção após os acordos de transmissão de gás e eletricidade para o Líbano com Síria, Jordânia e Egito (adicionais produção de 650 megawatts em média para o setor elétrico libanês).
Apesar de relatos (principalmente na mídia israelense) de que o gás é extraído das reservas de gás Tamar e Leviathan de Israel, o Ministério da Energia libanês negou, observando que recebeu garantias do Egito de que é gás, gás egípcio e não israelense. O Departamento de Estado dos EUA também emitiu uma declaração (16 de janeiro) declarando que as alegações de que os EUA mediaram um acordo de energia entre Israel e o Líbano eram falsas.
Segundo o ministro da Energia libanês Fayyad (29 de dezembro), a conclusão do projeto de transferência de eletricidade da Jordânia (200 megawatts em média) e gás do Egito (permitirá a produção de 450 megawatts em média) pela Síria fornecerá 10 horas de eletricidade por domicílio, todos os dias, em todo o Líbano. Várias declarações de partes interessadas confirmam que a infraestrutura para a transferência de eletricidade e gás estará pronta para operar até o final do primeiro trimestre de 2022, o mais tardar.
A infraestrutura estará realmente pronta conforme o planejado? Quem será beneficiado com o projeto? O fornecimento de energia do Egito e da Jordânia ao Líbano reduzirá a influência do Irã sobre o Líbano? O gás vem de Israel?
Não sabemos se a infraestrutura estará realmente pronta até o final do primeiro trimestre de 2022. Parece que é do interesse de todas as partes envolvidas realizar o projeto e acelerar a recuperação das infraestruturas. Este é um projeto do qual todos (ironicamente, também o Hezbollah) se beneficiarão. Egito, Jordânia (e Israel?) serão beneficiados com a venda de gás e eletricidade. A Síria se beneficia da restauração da infraestrutura em seu território e será paga pelo uso dessa infraestrutura. Além disso, entendemos que a Síria também poderá usar parte da eletricidade e do gás para suas necessidades. O Estado do Líbano terá dobrado sua capacidade de geração de eletricidade.
Os iranianos e o Hezbollah tentarão minar o projeto? O projeto reduzirá a influência iraniana no Líbano?
Em nossa avaliação, o Hezbollah saberá como usar a nova situação a seu favor, e o projeto não reduzirá a influência iraniana no Líbano.
Em nossa avaliação, a probabilidade de o eixo radical xiita liderado pelo Irã enfraquecer fisicamente o projeto é baixa. O Hezbollah preferiria, na medida do possível, um fornecimento fixo de energia (em vez do uso de geradores) tanto para seu interesse militar (para sua infraestrutura militar) quanto para seu interesse civil (para a população xiita e sua infraestrutura civil). Também estimamos que o Hezbollah será capaz de influenciar o tempo de fornecimento de eletricidade para áreas xiitas em detrimento de outras áreas para beneficiar suas narrativas políticas e influentes.
A campanha de mídia do Hezbollah para exaltar sua narrativa parece já ter começado. Em resposta a relatos de que é gás israelense, porta-vozes do Hezbollah começaram a declarar publicamente que “[sic] a resistência forçou o inimigo sionista e americano a entregar gás através do Egito, Jordânia e Síria… a normalização é proibida…”.
De fato, há uma aparente admissão e reconhecimento por parte do Hezbollah de que o gás vem indiretamente de Israel.
Se o Hezbollah não conseguir adquirir a capacidade de influenciar o fornecimento de energia em todo o Líbano (não achamos que isso seja provável), ele saberá como adaptar sua narrativa de campanha de acordo. Não sabemos se o gás que será fornecido do Egito ao Líbano via Jordânia e Síria é originário de Israel.
O fato é que tanto o Egito quanto a Jordânia compram gás israelense para suas necessidades e a infraestrutura de gasodutos por onde o gás israelense flui também será usada para transportar o gás para o Líbano.
Se for gás originário de Israel, ironicamente os xiitas no Líbano e o Hezbollah em particular irão apreciá-lo e usá-lo a seu favor.
Tudo é possível no Oriente Médio. É a ironia do Oriente Médio no seu melhor…
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