Opinião: Os judeus e a medicina

Este artigo tem como função informar o leitor sobre a curiosidade da fama entre judeus e a medicina ao passar da história.

por Fernando Zucatto Oliver

Os judeus e a medicina

Durante surgimento das faculdades na época medieval, as únicas faculdades em que os judeus eram aceitos eram as de medicina, e entre os séculos XXII e o XXV, mais de um terço dos médicos habilitados eram judeus.

A medicina representava, para o intelectual judeu, a porta de entrada para o mundo da ciência: “De uma perspectiva mais ampla, pode-se observar a reestruturação do pensamento judaico neste período: a reavaliação do valor prático da investigação racional, a separação do mundo físico da metafísica e o estudo da natureza como separada e legítima esfera de conhecimento, coexistindo com a sapiência das tradições rabínica e cabalística.” Cita Ruderman, professor de história judaica moderna da Universidade da Pensilvânia e autor de diversos livros sobre o tema.

Pádua, junto a Veneza, tornaram-se as cidades principais da comunidade médica judaica, cujas faculdades de medicina atraíam grande número de jovens judeus de toda a Europa devido ao intenso tráfico comercial, que era benéfico para os judeus: mesmo tendo de pagar taxas mais altas do que outros alunos, podiam conviver com pessoas de diversas culturas e podiam também atualizar-se com recentes avanços nos campos da anatomia, química, botânica e medicina clínica. Isso, alinhado ao não aceitamento de especulações milagrosas feitas por humanos, como descrito nesta ocasião também pelo professor Ruderman, foi um forte marco para o ceticismo dos médicos judeus e a busca pelo saber lógico da medicina. “Elijah Montalto, de Veneza, famoso médico e escritor, estava em seu leito de morte, e muitas pessoas foram visitá-lo, entre estes Rabi Yedidiah Galenti, chegado da Palestina.

O rabino Galenti começou a falar dos milagres realizados pelo cabalista Isaac Luria, ao que o agonizante teve um ataque de fúria: “Não posso ouvir essas coisas em silêncio. É mentira, falsidade. Não há mais profetas entre nós. Ou esse homem é um feiticeiro ou é um mentiroso, e não quero mais saber dessas histórias””. A reputação dos judeus chegou a tal ponto que o rei da França Francisco de Valois, quando adoeceu e os médicos da corte não conseguiam resolver seu problema.

Pediu então a Carlos V, da Espanha, que lhe mandasse um de seus médicos judeus. Carlos V mandou-lhe um doutor recém convertido e quando Francisco descobriu que o profissional não era mais judeu, mandou-o embora; queria um médico que tivesse a “natural habilidade dos judeus para a cura.” Ruderman transcreve a opinião do médico converso Juan Huarte de San Juan, autor da obra intitulada Examen de Ingenios para Sciencias, publicada em 1575, para quem esta habilidade nascia da experiência de sofrimento dos judeus.

Era uma habilidade apreciada, mas também encarada com desconfiança; o poder dos profissionais nas cortes caracterizava a figura de um doutor que podia influenciar reis e nobres e isto só fez aumentar a perseguição contra os judeus. Nos hospitais, havia mais diferenças entre os judeus e os demais médicos da época: o uso de alimentos próprios, o manejo do defunto de acordo com o ritual – mas, acima de tudo, o hospital judaico era uma instituição social e, sobretudo, médica; um lugar em que médicos e estudantes judeus, discriminados em outros nosocômios, podiam exercer suas atividades.

Finalmente, muitos membros da comunidade judaica viam o hospital como uma forma de integração na sociedade em geral.

Fernando Zucatto Oliver é estudante de medicina e voluntário da Legião Sionista de SP.

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Fontes: AUSUBEL, N., 1989. Conhecimento Judaico. Tradução de Eva S. Jurkewicz. Rio de Janeiro: A.Koogan Editor. BABEL, I., 1963. Awakening. In: Great Jewish Short Stories (S. Bellow, org.), pp. 264- 265, New York: Dell Publishing. BARKAI, R., 1995. Jewish medical treatises in the Middle Ages. In: Jews and Medicine (N. Berger, org.), pp. 45-85, Philadelphia: Jewish Publication Society. BERGER, N., 1995. Why medicine?. In: Jews and Medicine (N. Berger, org.), pp. 1- 52, Philadelphia: Jewish Publication Society. Da bíblia à psicanálise: saúde, doença e medicina na cultura judaica. Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/4474