Dia dos Namorados: O amor e casamento no ritual judaico

Nesta época de Dia dos Namorados, os casados tendem a lembrar sua vida conjunta que remetem até o dia de seu casamento.

Sejamos casados ou não, podemos apreciar os rituais judaicos que o casal, suas famílias e os convidados testemunham na data.

A linguagem litúrgica da cerimônia de casamento aponta para costumes mais antigos, pois em épocas anteriores, o casamento judaico ocorria em etapas ao longo de um ano inteiro. Na primeira cerimônia, erusin, o casal ficava reservado um para o outro e era proibido de ter relacionamentos com mais alguém.

Também, antes da cerimônia de casamento, o noivo concorda em ficar vinculado aos termos da ketubá (contrato de casamento) na presença de duas testemunhas. A ketubá detalha as obrigações do noivo para com a noiva, entre as quais alimentos, roupas e relações conjugais. Este documento tem o estatuto de um acordo juridicamente vinculativo.

Sob a chupá (um toldo, geralmente feito por um tallit , o qual os pais seguram em seus quatro cantos), é tradicional ler em voz alta a ketubá assinada.

Logo antes da cerimônia, a noiva vem escondida por um véu.
Ocorre então o bedeken: Bedeken significa “verificação”, e essa prática remonta aos tempos bíblicos. Segundo uma lenda, tudo começou depois que Jacó foi enganado por seu sogro Labão para se casar com Lia, que lhe foi apresentada como uma noiva já velada. Somente após a cerimônia ele descobriu que ela não era Rachel, sua noiva pretendida.

Entre os sefaradim, o bedeken não faz parte do dia do casamento. Em vez disso, uma festa de henna pode ser realizada durante a semana anterior à cerimônia em que a hena é aplicada nas palmas das mãos do casal de noivos. Essas marcações as tornam facilmente identificáveis no dia da cerimônia e podem, segundo alguns, protegê-las do “mau olhado” neste momento alegre de suas vidas.

É costume, antes de entrar na chupá, que um parceiro circule ao outro sete vezes, aludindo aos sete dias da criação e como um lembrete de que o casamento é em si um processo de criação. Em uma atualização contemporânea.

A segunda parte da cerimônia de casamento começa com a Sheva Brachot, ou sete bênçãos, que são cantadas ou recitadas com um copo de vinho. As sete bênçãos agradecem pelo fruto da videira, pela criação do mundo, pela criação da humanidade, pela perpetuação da vida, pela continuação da comunidade judaica, pela alegria do casamento e pela felicidade do casal.

Numa interpretação mais atual, podemos entender assim as Sheva Brachot:

1. Que a vida que vocês compartilham seja tão doce quanto este vinho que você bebe hoje. Bem-aventurada é a Fonte da Vida, que criou o fruto da videira.

2. Que seu amor um pelo outro seja sempre uma fonte de inspiração e felicidade. Abençoada é a Fonte da Alegria, que cria um mundo maravilhoso e brilhante.

3. Que sua jornada seja abençoada com generosidade e perdão. Que vocês se habilitem a realizar seus sonhos e que estejam comprometidos com os caminhos da coragem e da esperança. Abençoada é a fonte de generosidade que criou pessoas tão boas e notáveis … vocês dois!

4. Onde quer que você viaje, e onde quer que a vida o leve, que o amor de sua família e amigos sempre ecoe em seus corações … mesmo através de grandes distâncias e tempos. Bem-aventurada é a Fonte do Amor, que apóia o edifício do amor.

5. Com a força do seu relacionamento, você pode ajudar a transformar o mundo de maneiras grandes e pequenas. Que o seu amor um pelo outro seja uma fonte de calor e inspiração para a sua comunidade. Bem-aventurada é a Fonte de Cura, que traz bem-estar ao mundo através de Seus filhos.

6. Que você sempre encontre um refúgio escondido dentro do seu amor – um lugar para se esconder e um lugar para refletir. Abençoada é a fonte de segurança, que traz alegria para as noivas.

7. Abençoada é a fonte da vida, que cria maravilha, prazer, música e deleite! Que os noivos se enchem de alegria e regozijo, amor, harmonia e companhia. E que eles sejam abençoados com muita e muita paz! Bem-aventurada é a fonte da vida, que é a fonte da paz.

A aliança, trocada sob a chupá, e usada diariamente para sempre, é uma parte icônica de um casamento judaico

Durante a cerimônia, o noivo coloca o anel no dedo indicador direito da noiva com a seguinte declaração: harei at mekudeshet li b’taba’at zo k’da’at moshe v’yisrael. “Eis que neste anel você é consagrada a mim de acordo com a lei de Moisés e Israel.”

No final da cerimônia, é costume que o noivo quebre um copo. Existem muitas interpretações desse ritual. Alguns consideram isso um lembrete da destruição do Templo em Jerusalém no primeiro século, pois mesmo no auge da alegria pessoal, não devemos esquecer as tragédias sofridas pelas comunidades judaica e mundial. Outros explicam que o vidro frágil nos lembra a natureza delicada do casamento, que sempre deve ser cuidada e valorizada.

Texto de Mendy Tal
Cientista Político e Ativista Comunitário