Nas últimas semanas verificamos um aumento considerável nas manifestações antissemitas no Brasil. Isso é muito preocupante, pois mesmo sabendo que o ódio aos judeus não acaba, vemos crescer ainda mais nas redes sociais, terreno fértil para a prática de crimes por oferecer a falsa sensação de impunidade aos agressores.
Antes que comecem os ataques direcionados a este ou aquele partido ou político, é importante ressaltar que o antissemitismo em sua essência não possui lado partidário e muito menos é uma exclusividade deste ou daquele lado. Há nos dois lados partidários ondas antissemitas ao longo da história, tanto no Brasil como no mundo e que contribuíram em algum momento para o ataque, violência, perseguição e assassinatos em massa de judeus em todo lugar.
Porém, o que estamos acompanhando no Brasil é uma dicotomia caracterizada pela falsa percepção de relativa tranquilidade para os judeus, pois como bem sabemos há muito mais simpatizantes do povo judeu e de Israel do que antissemitas, mas ainda assim o radar deve permanecer ligado, pois como dizia Luther King que o que preocupa é o silêncio dos bons, vemos alguns que se consideram “bons” rirem e até compartilharem as ações antissemitas, em nome da pretensa “liberdade de expressão” ou do “isso não é nada demais”.
O que difere uma “comediante” alemã que, em forma de suposta piada afirma que deveria ter matado um judeu amigo dela, para um político de expressão nacional e eterno candidato a presidência que induz o povo a entender que todos os judeus são ricos e os verdadeiros financiadores do governo, ou um comediante e um presidente do Senado, ambos judeus, que recebem mensagens de ódio só porque são judeus? A resposta é absolutamente nada e todos devem ser coibidos e punidos na forma da Lei brasileira e internacional.
Depois da denúncia e exposição do caso da “comediante” alemã, recebemos muitas mensagens de apoio, mas principalmente de incredulidade, como também algumas pessoas que não consideraram nada demais o que ela disse. Respeito totalmente todas as opiniões e ninguém é obrigado a concordar com o outro, porém eu entendo que se deixamos passar uma brincadeira, depois uma piada, em seguida uma agressão verbal, passa por uma agressão física e aí já sabemos onde e como isso pode parar, não é?
Portanto, nós da JJO estamos realizando um banco de dados com as principais ações antissemitas que acontecem no Brasil a partir do episódio da alemã, para catalogarmos e expormos a realidade do antissemitismo por aqui, pois muitas vezes as pessoas entendem que não está tão problemático assim porque fica sabendo de uma ou outra situação, mas quando visualizar o todo com todas as manifestações, pode entender melhor com o que estamos lidando e talvez até ajudar a combater conosco.
Nada de alarmismo ainda, pois temos muitos descendentes de judeus forçados ao cristianismo, os chamados “Bnei Anussim” ou “Cristãos Novos” e que cada vez mais brasileiros descobrem essa descendência, além da maioria esmagadora evangélica que nos protegem e nos apoiam.
Entretanto não podemos baixar a guarda. Aprendemos com a história de que os judeus sempre tiveram que se virar e se proteger, ora com alguma ajuda, ora sozinhos. Há que se destacar também que nem tudo pode ser considerado antissemitismo, como não se deve banalizar o nazismo e o holocausto, desrespeitando as vítimas judias e não judias que foram assassinadas naquele período. Temos que saber também dosar nossas reações de acordo com a ofensa, partindo de uma simples denúncia e exigência de desculpas formais até a aplicação de penalidades definidas em lei, depois do devido processo legal. Nunca vamos compactuar ou incentivar os ataques verbais ou físicos a quem quer que seja, mesmo quando somos atacados de maneira vil como vem acontecendo, mas precisamos confiar em nossas instituições judaicas e também jurídicas para combater junto com nossos voluntários, cada qual com suas habilidades e alcance, qualquer ato ou declaração contra os judeus.
Também é muito importante ressaltar que a JJO sempre se colocou na vanguarda do combate ao antissemitismo desde sua criação em 2006, com diversas ações presenciais e virtuais e agora com sua rede de mais de 1400 voluntários no Brasil inteiro da Legião Sionista, nunca vai descansar e se manterá atuante e vigilante contra qualquer ação contra judeus ou não judeus, pois nosso compromisso e responsabilidade vão além do combate ao antissemitismo somente e levantaremos nossas vozes sempre, para coibir todo ato e palavras de preconceito e discriminação contra quem quer que seja.
Persio Bider
Presidente
Juventude Judaica Organizada e Legião Sionista