“A onda antissemita, hoje, é provavelmente comparável com a Europa dos anos 1930”. A afirmação é de um dos mais atuantes ativistas da comunidade judaica brasileira, Ariel Krok, que estará em Auschwitz na próxima segunda-feira (27) durante as celebrações pelos 75 anos do campo.
Entrevista realizada por Salus Loch, de Cracóvia, na Polônia – Um dos membros da mesa diretora do Corpo Diplomático Judeu do Congresso Judaico Mundial, o brasileiro Ariel Krok terá uma agenda bastante concorrida nos próximos dias. Nesta sexta-feira (24) ele chega à Polônia a fim de participar das atividades que irão celebrar os 75 anos da libertação de Auschwitz, o principal campo de concentração e extermínio construído pelo regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial – onde 1,1 milhão de pessoas foram mortas, cerca de 90% judeus.
Antes da viagem, porém, via Whatsapp, ele atendeu a reportagem para conceder a entrevista que segue. Nela, além de fazer um alerta importante, pontuando que a onda antissemita no mundo contemporâneo lembra a Europa dos anos 1930 (antes do início da Segunda Guerra Mundial: 1939/45 e do Holocausto), bate forte na importância da educação como fator determinante para a conscientização das pessoas contra o populismo e ideias racistas, de todos os tipos. Veja os principais trechos da conversa.
Como o Sr encara a crescente onda antissemita que avança em diferentes partes do mundo?
Encaro com muita preocupação. A onda é de fato crescente e vem avançando de forma provavelmente comparável com a Europa dos anos 1930.
Sob esse ponto de vista, o que deve ser feito para evitar uma escalada totalitária e populista, como há 80 anos?
A única saída é a educação, muita educação e informação. Conhecer o passado para proteger o futuro, estar ciente para conscientizar. Só com o conhecimento podemos evitar o aumento da escalada, e, com muita força neste sentido, conseguir sua redução.
O Sr é uma das lideranças do Congresso Judaico Mundial. Particularmente, quais ações estão sendo desenvolvidas pela entidade neste sentido?
Várias organizações judaicas em todo mundo tem lutado 24 horas por dia, sete dias por semana, para a educação, para a conscientização, para a divulgação maciça e a manutenção da memoria, como por exemplo a campanha do #WeRemember do WJC, ou o 5o Fórum Mundial sobre o Holocausto que reuniu essa semana quase cinco dezenas de chefes de Estado de todo mundo em Jerusalém, Israel, para discutir formas de enfrentar e reduzir o crescimento do antissemitismo no mundo.
Para Elie Wisel, o que permitiu o Holocausto não foi o ódio, mas a indiferença. O Sr concorda?
Concordo Ipsis Literis com tudo o que Elie Wisel, que sentiu na pele os horrores do holocausto, disse e escreveu. Sem dúvida, a maioria das pessoas no mundo não é antissemita, não é racista, mas a minoria ruidosa acaba eclipsando as vozes que ousam se levantar contra esta parcela violenta que desta maneira consegue, através de ameaças, o silêncio de uma maioria que prefere se proteger a ter problemas que, à principio, não lhes pertence. Esquecem que os ataques começam com as minorias mas logo chegam às suas famílias, muito por isto os Judeus são conhecidos como os “canários nas minas de carvão”, os primeiros a darem o sinal do perigo se aproximando.É preciso estarmos atentos, pois, se é verdade que o antissemitismo começa com ataques única e exclusivamente contra judeus, também é verdade que muitas vezes os ataques alcançam o restante da população.
O Sr acredita que os eventos que marcam os 75 anos da libertação de Auschwitz, em Israel e na Polônia, têm a capacidade de trazer o Holocausto para os dias atuais?
Acredito sim, é importantíssimo para levantar awarness (consciência), para trazer à tona todos os horrores cometidos pelos nazistas, para que o mundo todo veja que a luta não é, e não pode ser, apenas dos judeus.
Talvez vejamos pela última vez nesta segunda-feira, 27, durante a celebração pelos 75 anos da libertação de Auschwitz um contingente tão grande de sobreviventes juntos. Minha pergunta é: e quando não houver mais sobreviventes / testemunhas, como fazer para que as futuras gerações saibam o que aconteceu e estejam atentas para evitar que isso se repita, considerando que, hoje, 66% dos americanos dizem não saber o que foi Auschwitz, conforme a Claims Conference?
Com o passar do tempo, os poucos sobreviventes que ainda têm capacidade de testemunhar estão partindo. Com eles vai sua memoria ocular, seu testemunho em primeira mão do mau pelo qual passaram. Isto é de fato um problema, especialmente se considerarmos que, mesmo com o relato destas pessoas que tiveram ali e enfrentaram o pior que o homem pode fazer contra seu semelhante, em diversas mídias (vídeo, artigos, documentários, palestras…) ainda há um numero crescente de pessoas que desacreditam ou diminuem o tamanho da catástrofe que foi o Holocausto. É de se preocupar – e muito! – quando estas vítimas não tiverem mais condições de testemunhar. Por isso, insisto e, ao lado de outros tantos no Brasil e no mundo, temos dedicado esforços e tempo para estimular o conhecimento e a conscientização das pessoas, independente de credos ou ideologias.
Saiba mais: Ariel Krok, 45 anos, mora em São Paulo. É administrador de empresas formado em Comercio Exterior no Mackenzie, tem MBA em Marketing na ESPM e Curso de Especialização em Liderança Empresarial e Comunitária na Instituição de ensino superior e pesquisa Insper e no Instituto Rutenbergem em Haifa – Israel. Palestrante ativo com apresentações em escolas, sinagogas, centros comunitários, igrejas e clubes, tem na bagagem 25 anos de voluntariado comunitário como monitor, instrutor, dirigente e diretor de instituições. Há mais de duas décadas é um estudioso e entusiasta da historia, política, diplomacia e geografia no mundo, com destaque ao Oriente Médio. Morou em Israel e já retornou mais de uma dúzia de vezes para lá e para outros países da região (Egito, Territórios Palestinos…). Em várias oportunidades teve contatos, encontros, discussões com autoridades, formadores de opinião e jornalistas, em Israel, EUA e Brasil. Escreve artigos publicados em diversas mídias, como a Revista Shalom, Blog do Jornal Times of Israel, Tribuna Judaica e Portais como Pletz e WebJudaica. É Membro do steering committee do JDC (Jewish Diplomatic Corps) braço diplomático do WJC (World Jewish Congress) guarda-chuva de mais de 100 comunidades em todo mundo. Também é diretor na JJO (Juventude Judaica Organizada), do grupo Access do AJC, membro do Conselho do Fundo Comunitário Jovem e membro do Conselho da Hebraica.
Fonte: Pletz